Cadeiras enfileiradas, aulas teóricas e explicações monótonas pouco conectadas à realidade. A cena é quase sempre a mesma e já não combina mais com uma era em que o conhecimento está disponível no Google. Aulas e até mesmo cursos completos das melhores universidades do mundo podem ser acessados online e de forma gratuita.

Diante desse cenário, nos perguntamos: como tornar relevante o tempo em sala de aula, seja na escola ou em treinamentos corporativos? Neste post, você vai entender o que são experiências de aprendizagem (ou aprendizado experiencial) e conhecer algumas iniciativas inovadoras para tornar o aprendizado mais significativo – e, por que não, mais divertido? Confira!

Se as escolas fossem inventadas hoje, como seriam?

Essa provocação move uma inovadora startup nascida para reinventar as escolas do século 21. A Koulu Group fica na Finlândia, país considerado número um em educação no mundo. Não é novidade que o caminho para o desenvolvimento que todos nós desejamos para o nosso país também precisa desse tipo de reflexão. 

Liberdade, igualdade de direitos e oportunidades, segurança, empatia, autonomia são conquistas que dependem de desenvolvermos a capacidade de educar melhor as pessoas. Será que os métodos de ensino que existem hoje formam cidadãos conscientes e com a autonomia que é esperada para lidar com as transformações e com a instabilidade que do dia  a dia? Infelizmente, a resposta quase sempre é não.

A necessidade de reduzir o gap entre o que se espera no mercado de trabalho e o que aprendemos no ensino tradicional é o que tem movido essa urgência pela mudança. A revisão dos conteúdos e a necessidade de conectar a sala de aula com a vida real através de novas metodologias. O ensino de habilidades do século 21 ou socioemocionais, como a criatividade, empatia, inteligência social, pensamento crítico, autoconhecimento e tantas outras são aprendizados que, acima de tudo, nos ensinam a ser mais humanos, solucionar problemas de forma criativa e nos relacionar melhor com as pessoas. Não há negócios bem sucedidos onde não há equilíbrio entre as pessoas.

Aprendizados para a vida toda: o Lifelong Learning

A revolução tecnológica exige conexões mais fortes e contínuas entre educação e mercado de trabalho. Vivemos uma era de transformações exponenciais que, segundo Peter Diamandis, criador da Singularity University, está apenas começando. A ideia de “terminar os estudos” tornou-se obsoleta, já que o caminho para enfrentar os desafios constantes é aceitar que a educação se tornou um projeto de longo prazo, ou seja, o lifelong learning.

Desenvolver uma predisposição para o aprendizado contínuo deve ser uma escolha individual para elevar o nosso potencial natural de adaptação. Esse comportamento também deverá ser liderado pelas próprias empresas. Oferecer treinamentos regulares e cursos de formação e especialização vai além do incentivo financeiro, mas também deve considerar a flexibilidade de tempo e a disposição para que essa formação contínua aconteça.

O pensamento fora da caixa

Para perceber tudo que envolve a educação para adultos é preciso olhar mais a fundo para entender o que está embaixo da ponta do iceberg. Foi isso que nos levou a investigar a educação como um todo: relembrar o nosso próprio processo de aprendizagem e identificar onde nasceram nossas inseguranças e nossos bloqueios criativos. Quando foi que deixamos o gosto pelo novo de lado e passamos a pensar dentro da caixa?

Na educação infantil tradicional, as crianças têm sua criatividade e espontaneidade cerceada por uma cultura de regras e padrões que muitas vezes limitam e podem até fazer desaparecer a imaginação. O senso crítico é desestimulado e o ritmo individual desrespeitado. Desde pequenos, somos ensinados a obedecer sem questionar, mesmo que isso vá de encontro à essência que trazemos conosco.

O fato é que não somos contra a disciplina – que, por sinal, tem um papel fundamental no desenvolvimento de um ritmo saudável para o nosso crescimento. Entretanto, essa obediência também se deve a um sistema incompatível com uma nova realidade, professores desmotivados, e que, em sua maioria, carecem de uma formação baseada em valores universais e no conhecimento sobre si, sobre o outro e sobre o mundo.

Já no início da adolescência, quando passamos a fortalecer nossa visão do mundo, a enorme desconexão entre a educação e a realidade é o que mais nos desmotiva enquanto estudantes. Junto ao excesso de informação, há falta de sentido, encaixe e contribuição com o projeto de vida de cada um. Quase não há atividades práticas e participação na criação do currículo e decisões da escola. Como se sentir parte de algo que você não ajudou a construir? 

“A leitura do mundo precede a leitura da palavra.” Paulo Freire

Como se sentir parte de algo que você não ajudou a construir? Parece um caminho óbvio, mas ainda soa estranho falar sobre cocriação e colaboração muito pelo reflexo da metodologia que individualiza, mas não personaliza; que padroniza, mas não democratiza. Atitudes fundamentais nesta sociedade que estamos querendo construir.

O papel das experiências de aprendizagem na educação de adultos

Ao investir em formação e treinamentos corporativos, benefícios tanto para o funcionário quanto para a empresa, o principal objetivo deve ser melhorar o desempenho individual, da equipe e de toda a organização. Mas será que é só ao desenvolver uma nova habilidade que são acionados os gatilhos para a melhoria dos resultados? A resposta é simples: não.

É preciso que a formação vá além e atribua um significado ao trabalho. Para exercer nossos papéis sociais, em primeiro lugar precisamos funcionar enquanto ser humano. Após conhecer e estudar o que orbita ao redor da formação que recebemos como cidadãos e profissionais, percebemos que o aluno deve estar no centro do aprendizado. Logo, é preciso estabelecer metodologias que respeitem a bagagem de cada um.

Experiências de Aprendizagem versus Treinamento Convencional

O termo aprendizagem experiencial na educação de adultos é geralmente associado a práticas específicas baseadas na reflexão sobre uma experiência concreta. Diferente dos formatos tradicionais, as experiências de aprendizagem se beneficiam do “aprender fazendo”. O método exige que os participantes se envolvam de forma ativa em desafios imersivos que refletem os problemas vividos na vida real.

Para isso, são criadas metáforas com o objetivo de explorar e examinar os desafios, estimular a colaboração e gerar percepções reais sobre como o mundo funciona e o que devemos esperar dele. Mais ou menos como fazíamos no jardim de infância, lembra? Ao imaginar, criar e explorar possibilidades, nós damos vazão a um mundo de inovações e aprendizados com naturalidade, pois é criado um espaço seguro para isso por meio das experiências de aprendizagem.

Certamente você já se pegou pensando sobre como os erros acontecem por falta de clareza nas metas e objetivos ou mesmo por equipes que mal se conhecem e que não têm espaço para testar alternativas, usar sua autonomia e descobrir caminhos mais adequados. Ao trabalhar juntas em experiências de aprendizagem para encontrar a solução ideal, existe espaço para testar, errar, aprender e ainda aprimorar suas habilidades necessárias no dia a dia.

De tão natural e contextualizada, na maioria das vezes as pessoas acabam nem percebendo que estão aprendendo algo novo. James Macanufo, um dos principais entusiastas do método, afirma que usar jogos e experiências sérias ajuda as organizações a solucionar problemas complexos por meio de interações colaborativas entre as pessoas.  Neste caso, os professores tornam-se facilitadores.

 

Qual o papel da autonomia na aprendizagem experiencial?

A habilidade de ser protagonista não existe sem autonomia.  Mas há uma dicotomia quando observamos os ambientes de aprendizagem e trabalho em nosso país e a pressão pelo protagonismo.  Como ter autonomia se há tanta centralização de poder? Basta ponderar sobre como estamos acostumados à estrutura escolar tradicional: as salas de aula que falamos no início desse artigo e um professor que detém todo o conhecimento.

Para dar espaço às pessoas se desenvolverem, os professores precisam se transformar em facilitadores de aprendizagem. Ingrid Bens, autora do livro Facilitating With Ease! explica:

Facilitador é alguém que ajuda um grupo de pessoas a compreender os seus objetivos comuns, auxiliando-os a planejar como alcançar estes objetivos.”

Trata-se de alguém que guia, aponta caminhos e traz perguntas significativas, mas também é vulnerável, assume que não tem todas as respostas e precisa, acima de tudo, de um alto grau de empatia. Conectar as lições aprendidas com o mundo real e contar com bons facilitadores que saibam conduzir esse processo podem determinar a melhoria no desempenho por meio daquilo que foi vivido.

Aprender fazendo é uma chave para transcender a defasagem da aprendizagem tradicional, incorporar novas habilidades e conhecimentos e influenciar positivamente na vontade de melhorar o desempenho. Ao reconhecer novas perspectivas e realidades, as pessoas costumam deixar os programas ansiosas para praticar e liderar novas mudanças em casa, no trabalho e até mesmo na comunidade onde moram.

Qual o nosso papel no mundo?

A natureza do trabalho está mudando. Precisamos alinhar as empresas, instituições de ensino e até mesmo as simples ideias às necessidades da nova economia. Não podemos continuar agindo da mesma forma e esperando resultados diferentes. É uma transição do modelo hierárquico tradicional, originado na era industrial, para um modelo organizacional mais produtivo, alinhado às mais inovadoras tendências mundiais.

As carreiras tradicionais estão sendo substituídas por novas posições cujas funções são essencialmente diferentes, ao mesmo tempo em que são exigidos resultados criativos, relacionamentos verdadeiros e uma visão holística por parte dos profissionais.

Vale lembrar também que a imagem do início do artigo é da Freya Williams, que participou de uma formação sobre o tema com a nossa equipe em janeiro lá na Kaospilot, uma das principais referências em design e educação empreendedora no mundo, na Dinamarca. Foi uma das melhores paradas dessa viagem para buscar referências sobre o tipo de educação que a Novo Expediente busca desenvolver. Foram visitadas escolas, universidades, consultorias de inovação em educação, institutos de pesquisa, bibliotecas públicas. Conversas significativas com educadores, estudantes e sobretudo pessoas que desejavam transformar a educação e os negócios, tornando-os mais autênticos alimentaram ainda mais essa inquietação pelo tanto que há para transformar.

A melhor notícia que trouxemos? Tudo que vimos de mais incrível foi iniciativa de pessoas comuns, como eu e você, que estavam insatisfeitas com a forma que as coisas estavam indo e perceberam nas experiências de aprendizagem uma alternativa aos modelos tradicionais de educação.

Deixamos aqui uma reflexão: será que a origem dos problemas da nossa sociedade são as pessoas à nossa volta ou também devemos nos sentir responsáveis pela atual situação?

Acreditamos que, assim como nas experiências de aprendizagem, a resposta para essa e outras perguntas devem ser encontradas em conjunto. Se você quiser saber mais sobre como os novos métodos de educação corporativa estão mudando a realidade do trabalho, assine nossa newsletter e receba conteúdos exclusivos em seu e-mail!

*Esse artigo faz parte de uma série da Novo Expediente que vai abordar as principais tendências de empreendedorismo, educação, liderança, desenvolvimento econômico e bem-estar social no Brasil e no mundo. Continue acompanhando.